Você já ouviu falar nas moedas Mumbuca, Terra, Justos, Semear, Verde, Sol, Cajueiro? Sim, elas existem e são utilizadas em transações econômicas e comerciais aqui no Espírito Santo e em outras partes do País. Estamos falando das moedas sociais, físicas ou eletrônicas, com circulação restrita ao comércio local. Complementares ao Real, moeda corrente oficial do Brasil, as moedas sociais são criadas por bancos comunitários, com o objetivo de fazer com que a riqueza circule na própria comunidade, ampliando o poder de comercialização do território, por meio do estímulo ao consumo local, gerando trabalho e renda.

Somente no Espírito Santo, são 14 bancos comunitários em operação, que além das moedas sociais, também operam linhas de crédito voltadas para o consumo, negócios e habitação, assim como oferecem cursos e outras ações voltadas para a comunidade.

Um exemplo é o Banco Terra, localizado na região da Grande Terra Vermelha, em Vila Velha. Ao todo, o banco soma uma quantia de cerca de R$ 400 mil emprestados para moradores da Região 5. O banco trabalha com linhas de créditos para o consumo, em que libera R$ 100 para consumos imediatos, como a compra de um gás, medicamentos, entre outras necessidades. Também opera o crédito Produtivo para atender quem tem um micro negócio na região e, nessa linha, o valor liberado chega a R$ 1 mil. Já para quem busca por uma reforma, o banco oferece a linha Habitacional, em que libera até R$ 2.500 para pequenas reformas.

Segundo o coordenador do banco Terra, Dettmann Mendes, a moeda trabalhada pelo banco é a Terra, moeda digital em que um Terra equivale a um Real. “O banco comunitário é uma ferramenta de inclusão financeira muito importante, principalmente para os nanos negócios da comunidade. O fato de o banco estar na Região 5 há 17 anos contribuiu para impulsionar e fomentar a geração de renda sustentável na comunidade”, disse Dettmann Mendes.

Já, se você está na região do Caparaó, pode procurar o Banco Caparaó, localizado no distrito de Patrimônio da Penha, em Divino de São Lourenço. Com quatro anos de existência, o banco já movimentou mais de R$ 120 mil na comunidade, por meio de empréstimos voltados para o consumo, reforma e negócios. Segundo o tesoureiro da entidade comunitária de crédito, Flávio Gomes Freire de Azevedo, os moradores da região interessados no crédito podem procurar o banco. Além disso, no local, a estrutura do banco conta com uma loja voltada para a comercialização de produtos de empreendedores da Economia Solidária da região: ao todo, são 35 produtos, que vão desde agricultura familiar a biocosméticos, tudo produzido no local.

Outro banco comunitário é o Verde Vida, localizado no bairro Ataíde, em Vila Velha. Em funcionamento há 15 anos, o trabalho realizado vai além do financeiro. Segundo o presidente do banco, João Manoel Ribeiro do Santos, um dos trabalhos essenciais é a conscientização ambiental e a reciclagem.

João Manoel Ribeiro dos Santos, mais conhecido como “Joãozinho”, o banco atende cerca de 120 famílias na comunidade. “Nosso trabalho vai além das transações financeiras. O banco atua em outras ações, como reciclagem, coleta de óleo, fabricação de sabão e bazar social. Pensando no meio ambiente, coletamos o óleo nos condomínios, restaurantes e franguinho. O óleo de fritura é destinado para a fabricação de biodiesel e sabão, em parceria com o Ifes (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo). Por mês, são produzidos cerca de 60 quilos de sabão”, destacou.

“Também fazemos um trabalho de conscientização ambiental, em escolas e empresas, falando da importância da preservação e da integração das ações para o bem-estar da sociedade”, acrescentou “Joãozinho”, o presidente do banco Verde Vida.

Já o banco Bem, que atende o território do Bem, incluindo os bairros Bonfim, Itararé, Gurigica, Floresta, Engenharia, São Benedito, Bairro da Penha, Consolação e Jaburu, em Vitória, já emprestou mais de R$ 2,6 milhões para cerca de três mil famílias que moram nas comunidades. A moeda social utilizada é a Bem E-dinheiro, que circula no comércio local, estimulando, dessa forma, que as compras sejam realizadas no comércio do território. 

Conectando experiências

Em busca de conhecimento. Esse foi objetivo da viagem realizada pelo grupo de gestores de bancos comunitários do Estado, que partiu de Vitória para Maricá, no Rio de Janeiro, para participar do 3º Encontro de Gestores, Articuladores e Pesquisadores em Economia Solidária (Egapes), no último dia 23 de novembro.

A missão técnica aconteceu no Banco Comunitário Popular de Maricá, ou, simplesmente, Banco Mumbuca, criado pela Prefeitura de Maricá, com a missão de gerir os recursos da moeda social Mumbuca e ser o braço operacional do programa municipal de renda básica de cidadania. A moeda é aceita no comércio local, que vai desde grandes supermercados a lojas de departamento.

O gerente de microcrédito da Aderes, Helton Braz Scarpe, que coordenou a missão técnica com os representantes dos bancos comunitários do Espírito Santo em Maricá, no Rio de Janeiro, destacou que a participação dos representantes dos bancos comunitários capixabas no Egapes foi de grande importância por ter proporcionado conhecimento e troca de experiências.

“A Viagem foi uma rota de conhecimento, tanto no local, como tudo que pudemos conhecer e vivenciar, quanto durante a viagem em que os participantes trocaram suas vivências do dia a dia dos bancos comunitários. Fomos ver de perto a realidade de um banco comunitário que deu certo e como sua moeda social, o Mumbuca, movimenta toda a cidade de Maricá, no Rio de janeiro”, ressaltou Helton Braz Scarpe.

O diretor de Fomento e Inovação da Aderes, Alexandre Passos, disse que a experiência de conhecer outras realidades onde têm implantados bancos comunitários é muito importante para fomentar a política do crédito, por meio dos bancos comunitários, e, por isso, é fundamental poder qualificar os bancos comunitários para que possam buscar seu desenvolvimento e sustentabilidade.
“Alcançamos nosso objetivo ao proporcionar conhecimento para os gestores dos bancos comunitários do Estado com esse tipo de experiência. Nossa finalidade é tornar os bancos comunitários sustentáveis e produtivos”, salientou Alexandre Passo.

Saiba mais:

Bancos Comunitários do Espírito Santo

1 - Banco Bem – Território do Bem - Vitória

2 - Banco Bem de Perto - Vitória

3 - Banco Verde Vida – Vila Velha

4 - Banco Terra – Vila Velha

5 - Instituto Mão na Massa - Vitória

6 - Banco Sol - Cariacica

7 - Banco Kiri Kere – Nova Venécia

8 - Banco Passarela - Serra

9 – Banco AMPE Goiabeiras - Vitória

10 - Banco Esperança - Cariacica

11 - Banco ASMUC - Mucurici

12 - Banco Viver - Serra

13 - Banco Caparaó – Divino São Lourenço

14- Banco Abraço – Serra

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