01/02/2019 13h51 - Atualizado em 01/02/2019 16h35

MOVIMENTOS SOLIDÁRIOS INCREMENTAM ECONOMIA DE COMUNIDADES CARENTES

Foto: Divulgação/Aderes

Fabiano Silveira participa desde 2011 do Banco Esperança, de Nova Rosa da Penha, em Cariacica. Ele acompanhou, ao longo desses oito anos, a evolução pela qual a comunidade passou desde que começou a ter auxílio em processos como a criação do programa para microempreendedor individual, o MEI, o parcelamento tributário, a emissão de notas fiscais junto à Prefeitura, empréstimos e melhoria do ambiente de negócios como um todo.

“Há uma melhoria em todo o ambiente da comunidade à medida que fomentamos os negócios em um bairro com renda familiar baixa, alto nível de criminalidade e pequeno índice de profissionalização. Isso tudo afastava os empreendimentos do local. Com a iniciativa, o ânimo das pessoas mudou, percebemos um maior apetite para empreender. Muitas pessoas que perderam o emprego decidiram pela criação de negócios na própria comunidade”, comemora o empreendedor.

Atuando como contador e captador de recursos para a entidade, Fabiano vê mais do que benefícios econômicos na iniciativa. “O Banco tem uma forte função social. Muitas vezes o empreendimento que fomentamos é aquele que vai gerar o primeiro emprego para o jovem, vai permitir que ele tenha contato com experiências inéditas e contribuir decisivamente para a sua formação profissional. Afastamos jovens da marginalidade e os aproximamos do trabalho e de sua família”, revela. Quinhentas pessoas já foram beneficiadas pelo Banco Esperança, que planeja, para 2019, o lançamento da sua moeda social, a Rosa.

Para movimentar a economia local com uso de moeda própria, que surgiram os bancos comunitários, motores do crescimento da economia solidária. “A economia solidária é uma forma de organizar o trabalho baseado na cooperação, e não na competição entre os produtores, em que o lucro é dividido entre quem gera a riqueza e não fique com quem é o dono das empresas que envolve 1,4 milhão de brasileiros. Os bancos solidários desempenham importante função de oferecer crédito em pequena escala, a uma parcela da população que fica à margem do setor tradicional." A afirmação é do diretor-presidente da Agência de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas e do Empreendedorismo (Aderes), Alberto Farias Gavini Filho.

Paulo Roberto Portêncio, presidente da Associação das Micro e Pequenas Empresas (Ampe) de Nova Rosa da Penha, entidade mantenedora do Banco Esperança, lembra que o início não é fácil, mas a capacidade transformadora do projeto muda realidades locais. “A Ampe já tem 12 anos de atuação na comunidade, e nesse período observamos o quanto desenvolvemos o empreendedorismo no bairro. Se antes os interessados não vinham até a gente, fomos atrás deles e fomentamos o diálogo. Promovemos capacitações, nos tornamos próximos, identificamos gargalos à atividade empreendedora. Hoje percebemos como a comunidade evoluiu, o quanto confiam na gente. São pedreiros, artesãos, pintores, costureiras que estão aprendendo a empreender”, celebra.

A Aderes tem como missão desenvolver a economia do Espírito Santo por meio dos pequenos negócios, e isso passa por fomentar a economia solidária. A Rede Capixaba de Bancos Comunitários é composta por 12 bancos que atendem a uma população de mais de 370 mil pessoas. Tais instituições surgiram no Espírito Santo em 2005, com a fundação do Banco Bem, que beneficia oito bairros: Itararé, Penha, Jaburu, São Benedito, Bonfim, Floresta, Consolação e Engenharia.

A localização dos bancos em comunidades de baixa renda é necessária para prover os indivíduos que ali residem de serviços financeiros básicos. “São indivíduos em situação de vulnerabilidade social e econômica extrema, formada por pequenos comerciantes e empreendedores incipientes que muitas vezes vivem na informalidade, e aproveitam as oportunidades locais para gerar renda para si e suas famílias. Temos que considerar que em tais comunidades há uma circulação expressiva de moradores, e, portanto, grande demanda por produtos e serviços. Ao provê-los de insumos, conectamos as necessidades dos moradores com a oferta dos empreendedores locais”, afirma Gavini.

Assim, as riquezas locais são mantidas nas próprias comunidades. O papel dos bancos comunitários é oferecer o suporte para melhorar e desenvolver os negócios, a fim de qualificar e diversificar os produtos e serviços que são oferecidos à comunidade. Ao contrário de muitos bancos tradicionais, tais organizações registram baixa inadimplência, têm grande aceitação e penetração nas comunidades e engajam a população em projetos de desenvolvimento local.

A Aderes oferece suporte à implantação dos bancos solidários em cinco fases, que vão desde a mobilização e a realização de palestras motivacionais, quando a comunidade entende o conceito e mostra-se predisposta a aceitá-lo; até o acompanhamento, manutenção e fortalecimento da iniciativa, passando pela criação do fórum comunitário e da comissão gestora, definição do nome e da moeda social, escolha do espaço físico e contratação dos agentes comunitários e captação de recursos e parcerias.

Na foto, o presidente da Ampe, Paulo Roberto Portêncio, com Carol, que atua no Banco Esperança.


Box 1 – Os bancos solidários no ES

1. Banco Bem (2005): beneficia a região do entorno do Bairro São Benedito - Município de Vitória;

2.  Banco Terra (2005): região da Grande Terra Vermelha - Município de Vila Velha;

3. Banco Verde Vida (2008): região da bacia do Rio Aribiri - Município de Vila Velha;

4. Banco Sol (2008): região do entorno do Bairro Vista Dourada - Município de Cariacica;

5. Banco Esperança (2012): região da Grande Nova Rosa da Penha – Município de Cariacica;

6. Banco Abraço (2012): região do entorno do Bairro Planalto Serrano - Município de Serra;

7. Banco Mar (2013): região do entorno do Bairro Jacaraípe - Município de Serra;

8. Banco Viver (2013): região do entorno do Bairro Vila Nova de Colares - Município de Serra;

9.Banco Passarela (2013): região do entorno do Bairro Central Carapina - Município de Serra;

10. Banco União (2013): região do entorno do Distrito de Cristal do Norte - Município de Pedro Canário;

11. Banco Kiri-Kerê (2017): região do entorno do Bairro Rubia, na chamada Cidade Alta - Município de Nova Venécia.

12. Banco Caparaó (2017): região do entorno do Patrimônio da Penha – Município de Divino de São Lourenço, na Região do Caparaó.

 

Box 2 – Serviços realizados pelos bancos solidários

  1. Concessão de microcrédito para empreendedores (crédito produtivo) e moradores (diversos modelos, de acordo com as vocações e demandas das comunidades, por exemplo: crédito habitacional, crédito de consumo, etc.),
  2. Implantação e gestão da circulação de uma moeda social, aceita apenas pelos estabelecimentos comerciais e produtivos da própria comunidade (meio para estimular os moradores a optarem por consumir localmente),
  3. Criação de Fóruns de Desenvolvimento Comunitário (para que os moradores participem da gestão do banco comunitário e o utilizem como um instrumento de desenvolvimento local) e suporte técnico e gerencial aos empreendedores locais (para que melhorem seus negócios e aumentem a atratividade para os consumidores locais);
  4. Operador de Correspondente Bancário onde a comunidade pode fazer pagamentos de suas contas, pagar benefícios do Bolsa Família, evitando custos com deslocamentos aos moradores;
  5. Operador conveniado da EDP Escelsa/Cesan para recebimento de conta de energia/água;
  6. Criar programas de apoio e capacitação técnica e de microsseguro;
  7. Criar fundo local para projetos comunitários;
  8. Participar de editais, elaborar e apresentar projetos sociais e de investimentos a entidades públicas e privadas para captação de recursos, entre outras.

 

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